Peque, eu sei que tua carta tá atrasada.Escrevi pra alguns dos teus primos bem no dia
em que eles nasceram. Eu estava longe, com afeto borbulhando dentro de
mim, pedindo pra sair por algum lugar. Saiu aqui. Hoje é o teu terceiro mêsversário e estou longe de ti. Não dava mais para adiar.
Quando tu nasceste eu estava bem perto. Com a cara colada no
vidro, mais precisamente. Pensei e preparei muitas coisas para aquele dia.
Separei uma roupa, avisei no trabalho. Gravei vídeos de vários momentos, com a intenção de fazer uma grande produção cinematográfica da tua
estreia no mundo. Aí teu pai apareceu vestido de hospital contigo no colo. E aí
me derreti. Tudo que tinha planejado pr'aquele momento se perdeu na alegria que
senti quando te vi. Eu sei, parece meio exagerado. Mas foi isso mesmo, cara.
Deu um tremelique, um frio na barriga. E eu fiquei bocó. Sem condições de
escrever algo que meu narcisismo me permitisse publicar. Pelo menos naquele
dia.
Várias coisas daquele fim de tarde se misturam e confundem
na minha cabeça agora. Tinha teu pai contigo ali, tua mãe em algum lugar que eu
não sabia aonde. As enfermeiras estavam te cutucando do teu lado do
vidro, eu sei. Mas acredite: do outro lado havia parentes, amigos e estranhos se
cutucando também. Eu fui parar até dentro de um grupo de amigos da tua
mãe pra ajudar a tua dinda a mandar notícias de ti. E eles nos cutucavam
ferozmente, em busca de informações, pra saber se estava tudo bem. Tenho até
registrada uma conversa de comemoração de 1 hora do teu nascimento. Naquele
dia, fui pra casa meio zonza. Naquele dia, fui pra casa TIA.
Eu poderia aproveitar aqui pra falar do quanto o teu pai foi
o primeiro amigo de verdade que tive na vida, do quanto a tua mãe é uma das
mulheres mais fortes que já conheci, do quanto teu dindo é a pessoa que eu mais
acho parecida comigo no mundo, do quanto o vô Luis é uma cópia do vô que eu
tive a oportunidade curtir por tão pouco tempo, do quanto o amor da vó Lúcia
por ti faz com que ela sorria só de ouvir teu nome. Eu poderia te contar também
que, apesar de não ser muito próxima da vó Benilda ou da tua dinda quando você
chegou, dava pra ver sem fazer força que elas te esperavam muito, e te amaram e
protegeram desde o teu primeiro minuto de vida. Eu poderia falar de várias
pessoas, peque. Mas vou falar de mim.
Eu estou longe de ti agora, e talvez fique longe por muito
tempo. Talvez a gente se encontre poucas vezes por ano, e eu prometo tentar não
repetir a cena que fiz na nossa primeira despedida. Eu preciso que tu saibas
que, mesmo de longe, tu podes contar comigo sempre. Eu posso não estar aí pra
segurar tua mão quando estiveres aprendendo a andar, mas vou acompanhar e
torcer por ti a cada passo. Eu não sei se vou ouvir as tuas primeiras palavras,
mas vou estar aqui a qualquer hora pra conversar quando precisares. Talvez eu
não esteja por perto quando aprenderes a amarrar os tênis, a escrever o teu
nome, ou a trocar de canal na TV (pra tirar do futebol), mas eu posso te ajudar a achar
um tutorial no YouTube pra isso. Aham! E é pouco
provável que eu esteja aí quando ganhares o teu primeiro simulador de realidade
virtual, mas eu sei que assim que der tu vais me ensinar como ele
funciona.
Gabi, eu não sei como o mundo vai estar quando você tiver
idade o suficiente pra entender o que tem nessa carta. Hoje eu rezo por mais
tolerância, mais respeito, mais empatia, mais solidariedade. Espero que quando
chegar a hora de te explicar isso, eu possa começar com “é que naquela
época...”. Sinto um compromisso maior em fazer do mundo um lugar
melhor desde que você chegou nele, cara. E vou fazer tudo que puder pra isso.
Te amo, e tô com muita, muita saudade!
Beijo da tia de longe!
Um comentário:
Ah esses queridos, sempre encantando! Lindo d+ amiga, sei o que é amar esses pequenos
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