sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carta para Gabriel

Peque, eu sei que tua carta tá atrasada.Escrevi pra alguns dos teus primos bem no dia em que eles nasceram. Eu estava longe, com afeto borbulhando dentro de mim, pedindo pra sair por algum lugar. Saiu aqui. Hoje é o teu terceiro mêsversário e estou longe de ti. Não dava mais para adiar.

Quando tu nasceste eu estava bem perto. Com a cara colada no vidro, mais precisamente. Pensei e preparei muitas coisas para aquele dia. Separei uma roupa, avisei no trabalho. Gravei vídeos de vários momentos, com a intenção de fazer uma grande produção cinematográfica da tua estreia no mundo. Aí teu pai apareceu vestido de hospital contigo no colo. E aí me derreti. Tudo que tinha planejado pr'aquele momento se perdeu na alegria que senti quando te vi. Eu sei, parece meio exagerado. Mas foi isso mesmo, cara. Deu um tremelique, um frio na barriga. E eu fiquei bocó. Sem condições de escrever algo que meu narcisismo me permitisse publicar. Pelo menos naquele dia.

Várias coisas daquele fim de tarde se misturam e confundem na minha cabeça agora. Tinha teu pai contigo ali, tua mãe em algum lugar que eu não sabia aonde. As enfermeiras estavam te cutucando do teu lado do vidro, eu sei. Mas acredite: do outro lado havia parentes, amigos e estranhos se cutucando também. Eu fui parar até dentro de um grupo de amigos da tua mãe pra ajudar a tua dinda a mandar notícias de ti. E eles nos cutucavam ferozmente, em busca de informações, pra saber se estava tudo bem. Tenho até registrada uma conversa de comemoração de 1 hora do teu nascimento. Naquele dia, fui pra casa meio zonza. Naquele dia, fui pra casa TIA.

Eu poderia aproveitar aqui pra falar do quanto o teu pai foi o primeiro amigo de verdade que tive na vida, do quanto a tua mãe é uma das mulheres mais fortes que já conheci, do quanto teu dindo é a pessoa que eu mais acho parecida comigo no mundo, do quanto o vô Luis é uma cópia do vô que eu tive a oportunidade curtir por tão pouco tempo, do quanto o amor da vó Lúcia por ti faz com que ela sorria só de ouvir teu nome. Eu poderia te contar também que, apesar de não ser muito próxima da vó Benilda ou da tua dinda quando você chegou, dava pra ver sem fazer força que elas te esperavam muito, e te amaram e protegeram desde o teu primeiro minuto de vida. Eu poderia falar de várias pessoas, peque. Mas vou falar de mim.

Eu estou longe de ti agora, e talvez fique longe por muito tempo. Talvez a gente se encontre poucas vezes por ano, e eu prometo tentar não repetir a cena que fiz na nossa primeira despedida. Eu preciso que tu saibas que, mesmo de longe, tu podes contar comigo sempre. Eu posso não estar aí pra segurar tua mão quando estiveres aprendendo a andar, mas vou acompanhar e torcer por ti a cada passo. Eu não sei se vou ouvir as tuas primeiras palavras, mas vou estar aqui a qualquer hora pra conversar quando precisares. Talvez eu não esteja por perto quando aprenderes a amarrar os tênis, a escrever o teu nome, ou a trocar de canal na TV (pra tirar do futebol), mas eu posso te ajudar a achar um tutorial no YouTube pra isso. Aham! E é pouco provável que eu esteja aí quando ganhares o teu primeiro simulador de realidade virtual, mas eu sei que assim que der tu vais me ensinar como ele funciona.

Gabi, eu não sei como o mundo vai estar quando você tiver idade o suficiente pra entender o que tem nessa carta. Hoje eu rezo por mais tolerância, mais respeito, mais empatia, mais solidariedade. Espero que quando chegar a hora de te explicar isso, eu possa começar com “é que naquela época...”. Sinto um compromisso maior em fazer do mundo um lugar melhor desde que você chegou nele, cara. E vou fazer tudo que puder pra isso.

Te amo, e tô com muita, muita saudade!
Beijo da tia de longe!