terça-feira, 19 de agosto de 2014

Arco-íris 12 segunda-feira Jaca

Para continuar a leitura, por favor, repita a contrassenha pulando num pé só.

Essa mensagem é para você, meu amigo gênio.

Eu sei, é perigoso. Mas preciso deixar um registro. É pra nossa segurança.

Você sabe que estou falando com você. Mas cuidado, o PT e a CIA ainda não te identificaram, então não dê bobeira.

Ah, mas do que estou falando? Logo você, o grande cérebro por trás da identificação e divulgação de tantos complôs e armações para nos ludibriar. Nós, pobres cidadãos ignorantes.

Você não cometeria esse erro. Você vê a verdade por trás das manchetes e memes.

Você é tão superior que não precisa nem ler o conteúdo.

Eu tanto queria ter esse poder de ver uma informação, decidir que é verdade e que fará bem ao povo ter acesso a ela, e compartilhar o mais rápido possível.

Contorço-me de inveja da tua capacidade de discernir o que é justo e digno dos homens de bem, e de colocar o resto todo na lixeira dos imorais idiotas comedores de criancinhas.

Essa ralé intelectual e sua mania de checar fontes e entender fatos. Bastardos! Por causa desses imbecis estamos ainda aqui, nesse mundo cheio de marginais meliantes e seus justiceiros insuportáveis.

Ainda bem que temos você para nos apontar o caminho. Você, que não lê, não escuta e não discute. Você que generosamente compartilha com essas almas perdidas sua opinião. Sua opinião brilhantemente construída com base no cocô do duende da verdade que mora na privada do templo do oráculo.


A você, meu salve!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Mais uma carta

A todas as crianças que choram por motivos que só adultos, ou nem eles, deveriam chorar:

Esse é um pedido de desculpas, em meu nome e em nome de milhões de pessoas que minha fé na existência do bem me diz que pensam como eu.

Desculpem-me pelas bombas, pelos machucados, pelos enterros e pela saudade.
Desculpem-me pelo ódio, pelos abusos, pela fome e pelo frio.
Desculpem-me pelos deuses que justificam suas misérias.
Desculpem-me pelas doenças e pela agonia da espera pelo fim.
Desculpem-me se vocês tiveram que pegar em armas, que casarem e procriarem, que passarem horas na roça ou no chão da fábrica.
Desculpem-me pelos psicotrópicos e pelas tentativas de padronização.

Eu lhes devo mais explicações a respeito das guerras, do ódio racial e religioso, das convenções que permitem abusos desprezíveis, e da preguiça da sociedade em tomar conta de vocês.

Eu poderia dizer que existe tanta ignorância e medo no mundo que tudo que algumas pessoas precisam é de um líder maníaco, e que então nações inteiras concordam e cometem barbáries inexplicáveis.

Eu poderia argumentar que cultura não se questiona, e que é por isso que ainda permitimos meninas de 8 anos casando-se com senhores de 40. É por isso que toleramos a penalização do homossexualismo com pena de morte. É por isso que jogamos bombas em escolas. Para defender o que nosso povo acredita, nossa raça, nosso deus.

Eu também poderia dizer que a pobreza de algumas regiões faz com que seus governos não consigam os subsídios necessários para garantir que você vá pra escola e fique lá até a hora de sair. Que isso faz parte da economia, e que eles fazem o que podem.

E eu poderia dizer que as mazelas do mundo são tantas, e que trabalhamos tanto, e que estamos tão estressados. Se não nos sobra disposição para acompanhar seu desenvolvimento e participar de suas vidas é porque lhes amamos, e estamos fazendo de tudo para garantir que vocês tenham um bom futuro. Temos muitas coisas pra resolver, e vocês são uma delas. E é aí que entram os remedinhos e as telas da TV, do computador, do celular, do game.

Eu poderia dizer tudo isso, mas de que valeria?
Essas foram as desculpas que me deram. E elas tiveram tanto impacto na minha vida que, vejam vocês, vivo com genocídios, epidemias, estupros, corrupção, mentiras, injustiças e negligências bem debaixo do meu nariz. Eu a maior parte da minha geração sofremos imensuravelmente ao saber de tudo isso. Mas, na prática, não fazemos nada. Nadica de nada. Necas de pitibiriba.

Eu não tenho como providenciar uma explicação que JUSTIFIQUE o sofrimento que vocês estão passando. Muito provavelmente, eu também não vou fazer nada pra que esse sofrimento, de fato, diminua. Então eu quero pedir desculpas. Mil desculpas. Mesmo.
Prometo que, dentro do meu minúsculo universo, vou tentar fazer todas as escolhas que possam lhes ajudar. Mesmo que o impacto disso seja equivalente ao do soco de uma formiga.


Mais uma vez, desculpem-me.