sábado, 26 de dezembro de 2020

Carta para Lucas

Guri, sentar pra te escrever nesse momento requer uma disciplina particular. Como não fazer o texto sobre esse ano e todas as coisas diferentes e assustadoras que aconteceram nele? Como explicar porque eu não estava aí pra te receber, ou porque provavelmente precisarei fazer uma quarentena quando chegar pra te visitar? Como não disfarçar preocupações com tiradas sarcásticas sobre o escarcéu social e político em que o mundo se encontra? Vamos tentar.

Primeiro, preciso te dizer que tu mudaste uma coisa em mim, algo que ninguém nunca fez, nem nunca vai fazer de novo da mesma forma: virei madrinha. Meu primeiro afilhado. A primeira criança que vai me chamar de dinda. Ou dida. Ou didi. Ou mestra intergalática de aventuras (mida, pra encurtar). A gente combina o que ficar melhor pra nós dois.


Eu também ainda não decidi como vou te chamar. Peque é do teu mano. Pico é da tua prima. Pumba ia fazer um trio legal, mas por maior que tu tenhas nascido, eu não vou te chamar pelo nome de um javali da Disney. Acho que, quando eu puder te ver e te apertar, um apelido tolo vai sair explodindo pelas minhas orelhas. Então vamos esperar. E torcer pra ser um dia criativo. Pra tu não virares o pudinzin da didi!! (Ix, Pudim não é mal não, hein?)


Eu vou ser a tua dinda de longe, e essa é a parte mais difícil de toda essa função de amar as pessoas: as vezes elas não moram pertinho pra gente poder brincar a qualquer hora. Tem muita coisa que não posso te prometer por conta disso. Vou perder alguns aniversários, apresentações de escola, dodóis, dias da criança, dias de fugir do pai e da mãe... Posso colocar aqui o clichê de que vou compensar com muito amor, ligação pelo WhatsApp e presente via delivery, mas nenhum neném quer ouvir esse tipo de coisa (adultos, tampouco). Então vamos a promessas mais objetivas, que possas cobrar diretamente no futuro.


Lista Oficial de Promessas da Dinda pro Lucas*

*A ser atualizada em conferência anual entre os membros envolvidos, ainda a serem devidamente apelidados segundo o segundo parágrafo.

  • Uma viagem (longe, perto, longa, curta... os detalhes a gente ajeita).
  • Um segredo meu que só tu no mundo vais saber.
  • Um segredo seu que prometo guardar pra sempre (termos e condições aplicam, falamos mais disso quando chegar a hora).
  • Ajuda pra comprar um presente pra alguém especial que não seja da família.
  • Uma ajuda sem fazer perguntas.
  • Três truques facilitadores da vida (lifehacks).
  • Te levar pra experimentar um tipo que culinária que tu nunca provou.
  • Papos em que ficarei calada quando tu precisares só falar e não quiser ouvir conselho (quantos você precisar).
  • Conselhos ilimitados, sempre que tu pedires (e quando não, também...).
  • Te aceitar e te acolher, sem condições. Mesmo se tu gostares de uva passa no arroz, ou pizza com abacaxi. Mesmo quando tu te sentires sozinho ou fora do lugar. Mesmo quando tu fizeres algo errado ou ruim, ou quando só achares isso. Nos momentos mais especiais e nos mais complicados. Lucas, eu prometo que te dou a mão, o ombro e o ouvido. Sempre. Pode cobrar.

Bem vindo a essa terra redonda, onde o nazismo não é de esquerda, onde vacinas salvam vidas, onde o aquecimento global é real, e onde Capitu não traiu Bentinho. Como você pode ver, não deu pra resistir. Mas repare, apenas uma dessas afirmações é uma opinião. O resto é fato! 


Te amo, guri! Mas que café fresco de manhã ;)


(ps.: Esse texto começou na minha cabeça antes de nasceres, teve uma primeira versão escrita dia 15/12/20, e aí a vida só deixou eu colocar ele no ar 11 dias depois. Essa tempo-linha provavelmente não importa pra ti, mas fica o registro mesmo assim <3 )